É um sábado de manhã de dezembro de 2007. Acordas às 8h porque foste dormir às 22h no dia anterior e sentas-te no sofá com a tua taça de cereais favoritos. Ligas a televisão e navegas do canal de noticias que o teu pai esteve a ver até tarde para o Nickelodeon. Está a dar um episódio de Spongebob, mas, para teu espanto, todas as personagens têm um barrete de pai natal e Bikini Bottom está coberta de neve. Life’s good. Percebes que o Natal está à porta.

Por muito controverso que seja, esta é a minha altura favorita do ano. O tempo mais frio, a possibilidade de decorar a casa com apanhadores de pó como a árvore de Natal, beber bebidas quentes sem suar e comer comida tradicionalmente mais pesada como rancho, cozido à portuguesa ou feijoada são apenas algumas das razões para justificar o porquê de gostar mais dos meses terminados em “embro”. E o facto de poder passar mais tempo por casa a trabalhar nos meus projectos pessoais (ou só a existir, tornam-nos ainda mais aliciantes. No entanto, as músicas e os episódios especiais de Natal são talvez a minha parte favorita desta época, principalmente quando ambos se misturam numa só peça de arte. 

Não tenho um episódio especial de Natal preferido, no entanto, durante os últimos anos tenho vindo a ganhar um gosto particular pelo A Charlie Brown Christmas, o especial de Natal do Charlie Brown, que conta com uma banda sonora fantástica, gravada pelo Vince Guaraldi Trio.

O que torna este especial de Natal tão bom é que consegue capturar em pouco tempo as emoções complexas do Natal, uma época caracterizada pela sua nostalgia inerente. Durante esta época, normalmente dou por mim a repensar todas as decisões que tomei durante esse ano e inevitavelmente acabo por pensar naqueles familiares e amigos que já partiram, nos natais que tive quando era criança e na sensação de que toda essa magia desapareceu. No entanto, é também uma altura de novos começos, porque o ano novo está à porta e é aqui que começo a pensar nas já muito conhecidas resoluções de ano novo. 

A adicionar à história, à animação e aos undertones anti-consumistas, temos a banda sonora do episódio que é, em uma palavra, perfeita, porque enaltece todos os sentimentos que referi, criando uma atmosfera muito difícil de recriar de outra forma. De uma ponto de vista mais pessoal, quero ainda dizer que esta banda sonora faz-me querer ser um pianista melhor: No ano passado aprendi a tocar a Christmas Time is Here e este ano estou a lutar com a O Tannenbaum, que infelizmente não sei se conseguirei concluir a tempo do Natal. Se de facto não conseguir, vou simplesmente ser forçado a falar de músicas de Natal durante o início de 2025. 

No mundo da música, também existem especiais de Natal e normalmente incluem uma atuação ao vivo e vários convidados musicais. No entanto, gostaria de argumentar que um single ou um álbum de Natal podem ser considerados especiais de Natal porque são um momento em que o artista em questão interrompe a sua carreira “normal” para escrever uma música de Natal e tentar encapsular estas emoções complicadas dentro de 2 ou 3 minutos. E agora que penso mais a fundo sobre este assunto, não conheço mais nenhuma altura do ano que tenha tantas músicas compostas especificamente para a celebrar. 

Para ser honesto, um dos meus sonhos como músico é fazer um álbum de Natal, um pouco à semelhança do Frank Sinatra, dos Beach Boys ou até mesmo da Sabrina Carpenter! No entanto, não consigo justificar dedicar tanto tempo a um projecto que depois só é possível tocar durante parte do ano. Por enquanto, a solução que encontrei foi tentar lançar um single de Natal por ano, tendo lançado a meias de lã em 2023 e a cachecol este ano. Em teoria, se continuar a fazer isto, em 2029 já terei um álbum completo! 

E quem fala de um álbum de Natal, fala até de algum tipo de curta-metragem, com convidados musicais, muita galhofa e, claro está, com um plano de fundo completamente decked out com luzes e comigo vestido na minha melhor roupa natalícia possível. 

Especiais de Natal são mágicos porque durante aquele período de tempo, todas as regras impostas pelo universo em questão são colocadas em pausa. Por um breve instante, o ambiente e a roupa que as personagens, ou até mesmo os músicos, usam mudam por completo e tudo é possível. Não só isso, a sua revisão anual mostra que, mesmo depois das tempestades que o ano inevitavelmente traz, podemos sempre voltar à segurança da nossa casa. 

Se chegaste até aqui, obrigado por teres lido! Espero que tenhas gostado e que continues a ler em 2025. 

Feliz Natal!